Reflexões Porteñas – Última Parte

por Maria Shirts

“Não Vitor, vamos virar aqui, vai” disse eu, hoje, enquanto procurava um restaurante para almoçar com o meu amigo pelas ruas de Buenos Aires. Para quem não sabe, estou fazendo um curso de espanhol na terra da empanada e, enquanto isso, aproveito para apreciar a vida porteña, visitar alguns museusobservar a cultura local.

Hoje, atrás de mais um bife de chorizo, caminhávamos para onde a vida quisesse nos levar. E a vida nos fez dar de cara com um lugar fantástico: o Museu Borges.  Apesar de não me importar com a piração “coincidência ou destino?”, de não estar nem aí para o makhtub e me ligar mais em viver a vida mesmo, senti que aquele museu nos atraiu até ele, tipo efeito magnético. Uhm…esotérico, né?

Como estava em horário de funcionamento, tocamos a campanhia — o ‘intimismo’ mais meigo da cultura porteña. Quem abriu a porta foi Sarah, uma senhorinha igualmente meiga que cuida desse reduto borgiano. E eis que entramos na caixa de Pandora…

Logo na entrada há um pedestal feito por uns belgas malucos com dois objetos inspirados nos contos de Borges: o Aleph (!!!) e as moedas de Tlön. Depois há duas saletas com várias prateleiras que abrigam presentes, livros, as suas bengalas , fotos de infância, parte de sua biblioteca pessoal, objetos (os mais loucos) que decoravam sua casa e, pasmem, o seu mapa astral: leonino com ascendente em câncer.

Por um momento, compartilhei da vida de um dos meus escritores preferidos, me perdi nas suas anotaçoes e me emocionei com vários de seus manuscritos (que mal se podia ler, tao miúda era sua letrinha).

Depois de já uma hora lá dentro, com o privilégio da visita guiada por Sarah (de graça!!), sentamos no chão e ficamos olhando os livros que estavam à venda, tentando escolher quais levar. “¿Cuanto cuesta, Sarah?” “Ah, porque son estudiantes, 30 pesos cada un”. Mágico.

Ao sair, olhamos para os lados para ver se ainda estávamos em Buenos Aires. Afinal, aquele museu podia muito bem ser uma espécie de portal.

Qual nao foi a nossa surpresa, estávamos sim na capital porteña e, melhor ainda, na nossa rua. Parece lorota, mas  o Museu fica realmente na nossa rua, apenas 5 quadras para baixo. Aliás, essa nossa Calle Anchorena me parece as vezes um wormhole, com direito a Museu Borges, casa de swing (sim, aqui na frente!!!!) e até o Escrúpulos, restaurante que eu decobri esses dias que de escrúpulos nao tem nada — parece que é um “erotic restaurant” (?).

Mas essa história eu conto outro dia…

 

image2