Eles querem destruir o futuro

Às vezes, é um pouco perigoso falar em lutar pelo futuro. Por um lado, é fácil dar um tom poético à formulação, porém, por outro, também é fácil perder-se em abstrações e esvaziá-la de um conteúdo concreto. O que move as pessoas são os motivos concretos, os seus interesses mais ou menos imediatos. E na luta pelo futuro também é muito fácil, às vezes, perceber como as mudanças no presente afetarão esse tempo que ainda não chegou.

Esta semana, finalmente, uma ficha caiu. No plano de reestruturação da USP apresentado pela reitoria e pelo governo do estado de São Paulo está incluído um Plano de Demissão Voluntária que abrangeria cerca de 3000 funcionários. Os impactos disso no presente são fáceis de serem calculados: para os funcionários, aumento do assédio moral para que haja adesão ao PDV, aumento de trabalho sem aumento de remuneração para os que ficam. Para os estudantes, imagina-se que alguns procedimentos se tornarão ainda mais vagarosos, mas como é fácil perder de vista quem trabalha, é difícil calcular o impacto. Mas a ficha que caiu é que com essas demissões se efetivando, são 3000 postos de trabalho dentro da Universidade que deixam de existir.

A USP tem uma tradição de certo umbiguismo. Parte disso é pura arrogância conquistada em ouvir demais que é a melhor Universidade do país, do continente, do hemisfério. Mas parte disso se deve a um lastro na realidade. A USP conseguiu construir dentro de si uma tradição também de lutadores combativos, aguerridos. Muitas das conquistas e das ações da luta lá dentro acabam reverberando para as lutas fora dela, mas muitos dos ataques à classe trabalhadora e à juventude são testados primeiro dentro da USP. Veja que o Governo Federal, por exemplo, está desvinculando hospitais universitários também.

Não seria de surpreender se passando o PDV na USP, essa ferramenta começasse a surgir em outras áreas ligadas ao setor público, e passasse por contaminação pra outros setores. Assim, sabe-se lá quantos postos em outras Universidades, nos transportes, na educação, na saúde seriam extintos nos próximos anos como resposta à crise.

Para a juventude que está ou estará entrando no mercado de trabalho nos próximos anos, significa na prática menos postos de trabalho, uma pressão maior para manter os salários baixos, maior abertura para a precarização das relações de trabalho. A luta pelo futuro, então, não é somente pelo sonho, pela situação melhor em abstrato. A luta pelo futuro é simplesmente defender já hoje aquilo que ataca hoje o seu interesse de amanhã.

Por isso, é hora de resistir. Se nos calarmos, certamente nada restará do futuro.

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