Amor à Vida

por Luís H. Deutsch

“Os personagens e a história são ficção. Qualquer semelhança com a realidade é uma mera coincidência. ”

Um texto parecido com esse figurava nos créditos finais de seriados e novelas há algum tempo. Servia para separar de vez conspiratórias teorias que ligassem um folhetim à vida real de alguém.  Por mais que a vida imite a arte ou vice-versa, temos de ser taxativos: o que vemos na tevê é a pura maquiagem da realidade para fins de entretenimento. E funciona. Fim.

Só que, é de se observar que, pelo menos no Brasil, ficção e fatos reais andam centrados em alguns temas comuns. No caso atual, os médicos. Sim, o profissional de medicina está em alta. Fala-se dele tanto no Jornal Nacional, como na novela das 9.

Desde que a voz das ruas falou mais alto, e até mesmo um pouco antes disso, o programa Mais Médicos já garantia sua polêmica. Após o país parar e a presidente reforçar suas estratégias para a saúde ,  o quadro da discussão ficou mais instável.  Hoje, um debate sobre o programa que dá diretrizes novas e ousadas à medicina brasileira ficou tão polarizado quanto sobre a eutanásia, o aborto… Ou qualquer outro tema que transforma uma conversa em barraco de horário nobre.

Os profissionais da saúde estão, em sua maioria, inconformados. “Como assim, mais dois anos obrigatórios no SUS?”
“Como assim, não valemos mais e por isso querem médicos cubano-comunistas???”
“Como assim, ir trabalhar no Acre?!”

Assim como nas historias da televisão, perguntas mal respondidas, questões mal compreendidas e atos tomados de cabeça vazia dão o tempero da trama. Causam o conflito. O chato é que na vida real o conflito não causa audiência. Causa problema.

Quando a mocinha mimada (bonita, mas insuportável) da novela desconfia que seu noivo roubou sua filha,  o drama surge. Quando a menina com câncer morre e vira fantasminha-borboleta, mais um drama. Porém, no meio disso sabemos que ao término de 200 e poucos capítulos tuuuuudo vai ser lindo e maravilhoso, todos vão estar em um casamento com seus respectivos pares e um the end anunciará o fim do sofrimento. E a bixa má ou morre, ou vai pra Paris com um personagem mais novo.

ImageAgora, o que pensam os milhares de brasileiros que sofrem diariamente e morrem nas mãos de uma saúde precária? O que pensam quando vêem o embate entre posições e entre teorias enquanto, na prática… Falta maca, algodão, gaze, remédio, soro… Que vai ter happy end?

Bem, só se for uma novela daquelas espíritas, das seis da tarde.

No meio uma classe que rala, que estuda pra caramba e que sim, se sacrifica, surge um tumor que é o corporativismo baseado em mal-entendidos. Os médicos se protegem, fazem greves e paralisam ainda mais o sistema ruim que é o nosso.

De certo que nossa estrutura para a saúde é uma merlin. Péssima. Atrasada. Desrespeitosa. De fato, daria vergonha receber um daqueles médicos gringos de série americana que descobrem doenças raras por causa de uma manchinha na unha nas nossas unidades hospitalares. Com certeza, falta investimento alto e falta respeito ao dinheiro aplicado.

O que precisa ser entendido é: os passos devem ser dados em conjunto. O dinheiro para a saúde vai sair, seja do petróleo, seja de uma reforma tributária . É isso não é coisa milagrosa de final de novela. É obrigação de estadistas, e nosso papel é COBRAR. Votar direito. Não só assistir!

PORÉM… Enquanto isso, por que não aprimorar nosso país? Com médicos de fora, igual ao Canadá. Com médicos que participam mais do serviço público , como na França, e principalmente, com médicos em toda a parte do país, como em CUBA! Cuidando de gente. Não só aplicando silicone e repuxando a cara das peruas paulistanas.

Acho que o desejo pra um verdeiro desfecho legal é um desejo por mais  estrutura, mais programas, mais respeito e também, mais médicos. Que tenham amor à profissão. E amor à vida.

VIDAAAAAAA! (Ok. Foi mal.)